O ego é tão inteligente e manipulador que até para falar
sobre sofrimento ele estabelece concorrência. Quando eu falo para as pessoas
que tenho depressão, as reações são as mais variadas possíveis. A mais comum é o julgamento comparado, digamos assim.
Todo mundo acha que já sofreu mais que o outro aí julga quem está deprimido,
pois o transtorno não mostra feridas visíveis a olho nu. Você pode estar bem
num dia, mal no outro e não vai aparecer no exame de sangue nem nas
radiografias. Sendo assim, baseadas em suas histórias de sofrimento, as pessoas
que nunca tiveram contato próximo com a depressão logo lançam a pergunta: “Você acha que está sofrendo?”
Ninguém
nunca sabe o tamanho da dor do outro. Isto vale pra qualquer sofrimento, doença, transtorno, a dor que seja. Não existe medidor para aferir sofrimentos e compará-los.
Mesmo se houver um diálogo bem explicadinho, a outra pessoa nunca irá entender
se não tiver passado pela situação. Se tiver passado, ainda assim não saberá
exatamente como a outra se sente ou o tamanho da sua dor. Porque as
experiências de vida são únicas, o acúmulo de dores e contrariedades é único.
Julgar o estado do outro tomando sua própria vida como referência é apenas
imaturidade, falta de empatia e de compaixão. Fazemos isso quando o ego
está no comando. Temos até boas intenções, afinal queremos que as coisas fiquem
bem. É muito difícil não julgar porque estamos acostumados a entender que todos
somos iguais. O que serve pra um tem que servir para outro. Então, o ego pensa
que contar seu “sofrimento maior” para um deprimido vai fazer com que ele se
sinta melhor, pois em sua teoria, o que ele sofreu na vida, é muito mais que
uma depressão – tá de frescura.
É
absurdo pensar que comparar sofrimentos traz alívio para quem sofre alguma
coisa. Você está reclamando que
terminou com o namorado, mas o namorado da fulana morreu num acidente terrível.
Enquanto você está trancado no quarto com depressão, ciclano não pode andar
para o resto da vida. Tem gente trabalhando com o pé machucado, com tendinite e
você aí de atestado médico. Não faltam exemplos de julgamento comparado do
sofrimento. Pensar em quem tem câncer terminal não me faz sentir melhor; me faz
ter compaixão. Sei que cada um tem
ou já teve um grande sofrimento e isso não me faz querer comparar, julgar e
depois disso ficar bem. Porque cada ser humano tem sua própria história de vida
e não existem parâmetros de medição. Quando temos um dilema em nossa vida ele é
só nosso, não está num mercado para barganhas e negociações de valor. Ou do certo
e do errado, do maior ou do menor. Não dá pra ficar medindo sofrimento em
balança, se ele é embalado a vácuo ou a granel.
O que dá pra gente fazer é resgatar a empatia dentro da gente. Ao invés de explicar, tentar convencer,
comparar e julgar; estar perto somente. As pesquisas dizem que mais de 90% da
comunicação é não verbal. E se você estiver disposto a ajudar alguém que passa
por algum sofrimento, nenhuma retórica é necessária. Apenas a empatia e a compaixão. Essas duas palavras parecem simples, já seus
significados são até um pouco difíceis de explicar e acho que o motivo é que
elas andam cada vez mais esquecidas na sociedade moderna. Empatia não é pegar para si o problema do outro. Compaixão não é sentimento de dó nem
piedade.
Quando presenciar o sofrimento de alguém, ou mesmo o seu próprio, deixe o ego pra lá junto com seus julgamentos e segundas intenções. Quando somos empáticos com o sofrimento logo sabemos o que é compaixão. A partir daí podemos permitir não que o sofrimento pare, mas que ele passe.
Fantástico!
ResponderExcluir:)
Gratidão 1! :)
ExcluirBom
ResponderExcluirValeu! :)
ExcluirNossa! Pensei nisso estes dias. As vezes comento a situação que passei por todo esse ano e logo vem as pessoas comparando suas dores com a minha. As vezes eu procuro até só ouvir o que a pessoa tem a dizer de suas dores a ter que compartilhar meu momento porque sei que não serei ouvida da mesma forma. Também me policio pra sempre tentar escutar a dor do outro. Relações humanas sempre me deixam confusa...rs.. Abraços!
ResponderExcluirO desafio é grande nas nossas relações, o ego está sempre na frente até nesses casos. Às vezes também prefiro só ouvir porque sei que o retorno não será da mesma forma, infelizmente. Mesmo assim acredito que expor, seja se vão entender ou não, é a melhor forma. Mas tem hora que realmente não dá rs Gratidão por comentar e abração!
ExcluirNossa!!Me surpreendi c seus textos.Tive o prazer de te conhecer a algum tempo.
ResponderExcluirFico feliz por ter gostado do conteúdo! Espero que tenha trazido uma luz aí pra você. Gratidão ! :D
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