Estamos em crise, dizem os jornais. E aí pensamos no pior. Política, educação, governo, leis arbitrárias, violência, qual será a coisa pior que o Brasil tem? A questão é difícil de responder, não é mesmo? Talvez seja o governo, quem sabe o velho jeitinho brasileiro. Agora, buscando lá no fundo do coração a gente sabe a resposta. Ao contrário do que poderiam pensar os nacionalistas partidários revoltados e revolucionários de plantão, a resposta é: a baixa autoestima do brasileiro.
Depois
de 10 meses fora, cheguei aqui e estou vendo nosso país com outros olhos. Sim,
parece que muita coisa mudou para pior. E maior problema ainda não mudou: NÓS não mudamos. É duro reconhecer
porque isso nos fere, nos expõe. O sentimento é de que estamos acima da testa
de tanta falta de amor. Brasileiro gosta de carro, de futebol, de comprar em
Miami, de churrasco no fim de semana, mas brasileiro parece não gostar de ser
brasileiro. Ouvi muito entre a comunidade brasileira nesse período na Nova
Zelândia a frase “BRASILEIRO É FODA”.
E foda no sentido ruim. Digo isso com minha própria parcela de culpa. Também
falei brasileiro é foda por lá. Que a hipocrisia deixe de reinar em nossos
corações! O brasileiro é foda seja porque uns querem se dar bem em cima de
você, ou querem se achar mais do que os outros na gringa, ou porque o carinha
que roubou no mercado era brasileiro, ou então porque o deus dele era superior
ao de qualquer um. Ou seja, pelos vários motivos de competição ou de ter a
razão.
É
quando a gente sai do país e volta é que conseguimos fazer reflexões que
mostram um pouco da verdade de nós mesmos. Não é preciso dizer que isso não é com
todo mundo e tal. Conheci brasileiros que me fizeram sentir orgulho verde e
amarelo, orgulho de ser humano. Pessoas
que vivem a honestidade, humildade, criatividade, inteligência e calor humano
que só o Brasil tem. Infortunadamente, a maioria está cheia de complexos
de inferioridade, de traumas, medos e revoltas dentro de si. Carência, pouca
autoestima, falta de amor próprio e de amor apropriado. Nunca procuramos tanto
sobre fórmulas da felicidade, remédios que curam e livros de autoajuda. É o mal
do mundo? Sim. E a parte desse mal que cabe ao Brasil é nossa falta de cuidado.
Cuidado com a gente mesmo, falta de reconhecimento, de gratidão. E antes de
tornar este texto um Tratado da Vitimização, vamos aos fatos.
Falta de autoestima pode ser falta de
união
Talvez
para se proteger da nossa própria toxidade de emoções, muitos brasileiros se
afastam de outros brasileiros porque alguns acabam trazendo problemas para os
outros. São numerosos os que querem ser os mais descolados, os com mais tempo
de casa, os com mais experiências de vida e blábláblá. Comparando nosso povo
com o povo de fora, a maioria das pessoas de outras nacionalidades são
extremamente unidas: Russos, Afegãos, Ingleses, Indianos, Europeus, Chineses e
os vários países asiáticos. É incrível a relação de união que eles mantêm. A
união dos brasileiros é muito baseada em religião e no achismo um do outro. Enquanto
os gringos formam um time, os brasileiros competem entre si. Talvez agimos
assim porque nunca tivemos motivos suficientes para uma união pós-guerra. E no
cada um por si, o deus parece ser diferente com todos.
Religião, a forma destorcida de compartilhar
o amor
Muitos
brasileiros chegam na gringa querendo converter a todos, multiplicar igrejas.
Parece acontecer muito, principalmente em países ateus como a Nova Zelândia.
Tem sempre alguém com um discurso de salvação e entendido dos mistérios da
vida, mas que não conseguem entender o porquê o país onde ele está é de
primeiro mundo e o Brasil continua no terceiro. Porque não exercitar o amor de
pessoa para pessoa, antes de perguntar qual religião ela é, ou falar o tipo de
deus que ela precisa? Nenhum muçulmano veio me falar sobre a crença dele, ou
algum budista, ou xintoísta. Nenhum gringo tentou me convencer sobre qualquer
dogma, seita ou até mesmo filosofia de vida dele ou de seu país. Em
contrapartida, brasileiros me abordavam com o tema religião. Não só abordavam
outros brasileiros como também os estrangeiros. Os estrangeiros querem sempre
saber sobre a cultura dos países, sobre a comida, compartilhar os bons hábitos;
não sobre as crenças religiosas.
Crise, matar a Dilma e toda a bancada
petista
Leiga
e particularmente, não acredito em crise propriamente dita. Quem já não viu
esse filme antes? A política e a economia podem estar sim em crise e tudo o
mais. Mas matar a Dilma não vai resolver, prender o Lula tão pouco. Dilma é um
ser humano, e todos aqueles políticos também. A questão é que tudo começa naquele
jeitinho inocente de querer levar vantagem em tudo, que se introjeta no
brasileiro desde a infância. Usar o jeitinho brasileiro tornou-se quase obrigatório
como alternativa para ser menos prejudicado, uma espécie de compensação. O
levar vantagem em tudo é só uma forma imatura de defesa contra o sofrimento. Jeitinho
brasileiro é no fundo uma espécie de autoproteção baseada na falta de amor. Já
está no DNA, e não apenas como metáfora. Nosso DNA guarda comportamentos que
podem esclarecer qualquer aspecto social e econômico da nossa vida e da
sociedade. Crenças errôneas através das gerações criaram o jeitinho brasileiro.
E se você procurar sobre Epigenética vai saber que é possível sim alterarmos
nosso DNA, eliminando determinadas crenças que nos impedem de evoluir.
Abandonar o barco
Quase
fiquei de vez por lá. A liberdade e segurança que se tem na Terra do Senhor dos
Anéis são impressionantes! A gente fica apaixonado por qualquer lugar onde o
respeito é de praxe, onde se é sempre bem tratado e as coisas realmente
funcionam. Não é à toa que existe uma grande diversidade de raças migrando para
a Nova Zelândia. Tem gente que não troca a Aotearoa por nada. Amigos, família,
praia, calor humano... nada mesmo. Outros abriram mão de todas as qualidades de
um país desenvolvido para enfrentar os problemas do Brasil, com todo o seu
ônus. A questão de “abandonar o barco” é muito particular de cada um. A Terra
Média também tem coisa ruim que não se fala por aí. Todo lugar tem o ônus e o
bônus. O Japão, outro exemplo de civilidade, é referência em educação,
tecnologia e coisas mais. Mas de que adianta tanta disciplina e oportunidade se
ele se tornou um dos países onde há mais suicídios no mundo? Será que as
pessoas estão realmente vivendo bem? Para se ter ideia, os asilos de lá estão
contratando os próprios internos para trabalharem porque não tem gente para
ocupar os cargos. A taxa de natalidade é baixíssima.
Seja
na Suécia, Dinamarca ou Noruega, eleitos os países top na balada global, todos
tem seus podres e poderes. Talvez a sua missão seja no seu país, ou em outro
que se identifique, se adapte melhor. O que fica bem claro nessa coisa toda é a
falta de unidade entre brasileiros. Competição em detrimento da união. Daí a
tamanha vontade de abandonar o barco. Quem vai querer ficar no seu país pra
competir um com o outro ao invés de se tornar um grande time? E nessa onda, nos
perdemos sem aproveitar o que nossa identidade tem de melhor. Tanto se fala em
calor humano do brasileiro, e tanto nos queimamos uns aos outros.
O Brasileiro é realmente FODA,
DUCARALEO, TUDODEBOM,
quando se está bem resolvido consigo mesmo, quando o amor próprio exala do
coração, quando cuida do próprio ego de forma saudável, sem competição. Quando
ele está disposto a servir. A gente está se protegendo do quê? De amar, de ser
amado, de compartilhar o que temos de melhor? Baixa autoestima é quando a gente
não acredita em nós o suficiente para confiar em si mesmo e nos outros. Somos o
povo mais caloroso do mundo porque o amor está fervendo dentro. Se todo
brasileiro, ao invés do ego, colocasse todo amor que tem dentro de si pra fora,
não haveria nenhuma crise. Pois a única
crise que sempre existiu foi a crise do amor.
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