A gente quer evitar o sofrimento a todo custo. Chorar pode parecer vergonhoso então aguenta-se calado. Se expor pode ser um grande martírio e aí guardamos as coisas só para si. Quem sabe, por medo de sofrer não entramos mais profundamente num relacionamento. E nem precisa ser amoroso, até mesmo se abrir para alguém como um amigo gera uma certa possibilidade de sofrer por se mostrar vulnerável. O que implica em possibilidades inevitáveis de sofrimento. Acaba que nunca conseguimos estreitar os laços como deve ser, ou seja, naturalmente. E se você pensa que pode parar de sofrer, como prega algumas religiões, me desculpe se estraguei sua festa, mas isto é impossível.

Direto ao ponto. Se sente  uma dor de cabeça você sofre, certo? É simplesmente a mesmíssima coisa para tudo! A dor é um aviso. O sofrimento é uma placa dizendo: Vire à direita. Cruzamento perigoso. Atenção, curva sinuosa. E se não prestou atenção nas placas pelo caminho, aparecem painéis de led piscando pra que você tome consciência da situação. E se mesmo assim você insistir em negligenciar, uma autoridade divina envia um agente para poder forçar você a tomar alguma providência. 

O problema é que não entendemos isso. Não queremos aparecer fracos diante das pessoas, diante do mundo e principalmente de si mesmo. Mas o que não é o ser humano senão um ser completamente vulnerável? Um simples vírus invisível a olho nu pode te deixar de cama por semanas. O ser humano é como poucos animais que, logo após nascer, se não tiver ninguém pra cuidar, morre ao relento. Qualquer outro animal depois que nasce já sai andando ou se vira sem cuidados especiais.

Sofrer faz parte da perfeição que acreditamos existir. Quando se sofre a vida está sendo seu best best best friend te dizendo para que cuide mais de si mesmo. Se a gente parasse de sofrer talvez não teríamos a chance de consertar as coisas, ou nunca saberíamos o seu verdadeiro valor. Pense agora o quanto você já aprendeu sofrendo ao longo de sua vida. E como cada placa dessas evitou algum possível acidente durante a estrada. Inclusive que algo ruim se repetisse.

Quando penso em algum jeito de destralhar o sofrimento não é sobre como não sofrer. É sobre expor o que incomoda para que isso vá para fora e se transforme. Porque o sofrimento externo é apenas o reflexo do que vem de dentro. Se ele não está mais no interior não vai se refletir em lugar algum no exterior. Parar o sofrimento é ficar mais tempo com ele. Hoje não paro sofrimento, deixo ele passar. Aceito-o, quando ele vem e não o guardo mais dentro de mim. Pois ele é um ser completamente confiável te oferecendo alternativas e indicando a melhor direção. Só que ele precisa passar; ele está só de passagem. E aí você pode perguntar quanto ao sofrimento da humanidade... Não seria apenas a soma dos reflexos interiores guardados dentro de cada um de nós?

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