Assumo. Tenho uma grande dificuldade de dizer eu te amo. Acredito que muita gente tem. Dizer eu te amo para seus pais, seu amor, seus amigos, para um irmão, quem sabe até mesmo para os filhos. O significado do amor é muito controverso nos dias atuais. Ama-se sob condições. Não se ama para não apresentar um atestado de vulnerabilidade. Finge-se não amar para evitar ao máximo uma possível rejeição. Porque é tão difícil dizer do coração "Eu te amo"?

Poderia ser o instinto animal nos protegendo dos sofrimentos, talvez. Mas os bichos devem amar incondicionalmente, se é que dá pra dizer algo do tipo. Alguns vivem com seus filhos até a morte, outros o rejeitam assim quando nascem. Inclusive se um rebento nasce com algum tipo de defeito. Gosto de fazer comparações com os animais porque eles mantêm intactos os segredos e as nuances da natureza. E tirando o nosso caráter racional, somos apenas mais uma espécie de ser, que se reproduz ao longo da vida.

O fato é que amar se tornou a coisa mais complexa da atualidade. Quantas condições nós impomos para que isso se concretize! Quantas regras estabelecemos para que amar seja uma troca! Contratos, certidões de posse, certificados de aptidão. Quantos parâmetros, quantas comparações nos fazem mostrar ou retrair nosso amor. Os livros, as religiões, as figuras de autoridade que se intitulam mensageiros do amor existem desde os primórdios, com suas "cartilhas" sobre como amar o próximo; sobre o que fazer para que um amor seja verdadeiro; o que é preciso para se viver um grande amor.

Fazem de tudo para categorizar e enquadrar o amor. Classificações, tipos variados, rankings! Amor não é, nunca foi e nunca será uma instituição. Não existem regras nesse jogo. Não existem campos gramados e milimetricamente sob medida para atuar e não ultrapassar certos limites. Existe apenas um sentir. Existe apenas a desobediência natural do coração! E o coração não se modernizou. Apesar da sua perspicácia, ainda é um primata. E quando estamos querendo controlá-lo é como se disséssemos ao King Kong para caminhar sobre ovos com cuidado, para não quebrar.

O amor se tornou tão complexo que se desdobrou em ciúme, inveja, doenças da cabeça e do próprio coração. Um psicólogo me falou uma vez que todo "tipo" de amor, seja de mãe, de namorada, de filho, de amigo, e até de bicho, é tudo a mesma coisa. E ficamos buscando preencher as lacunas do amor perambulando entre essas vertentes. Será que ele tinha razão? É uma visão interessante.

A dificuldade no dizer eu te amo vem daí, desta complexidade criada pela nossa razão. Já foi simples amar. Creio que ainda é. Nós é que tornamos tudo complicado demais. E simples não quer dizer fácil. Ao contrário, simplificar o que já foi simples é muito difícil. E aqui está o desafio do destralha! E enquanto a gente tenta fazer baliza com nosso amor, fica uma pergunta no ar, como na música da Legião Urbana: E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?


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