Brasília é uma cidade feita sob medida e separada por setores de tudo quanto é coisa. Tem setor hoteleiro, setor comercial, setor de diversões, setor de transporte e abastecimento; tem até setor de postos e motéis. Sua arquitetura peculiar - quase egípcia- dividiu o centro em duas “asas”, sul e norte. Um setor bastante movimentado é o Setor Bancário Sul. E é neste cenário que existe um contrastecurioso ao caminhar pelos seus amplos espaços cor de concreto, repletos de edifícios vaidosos.

No caminho para o trabalho, por volta de oito da manhã, ando junto a outros trabalhadores vindos da estação do metrô. Ao chegar na quadra, passo entre os diversos bancários dispersos entre um prédio e outro, ao lado de bancas de frutas e quiosques. Em qualquer direção que se olhe, não é difícil distingui-los: roupas sociais, cabelos cortados e gravatas medalhosas. Tabletes e smartphones saltam de seus bolsos como tamagochis famintos. As pontas de cigarros entre os dedos marcam o procrastinado início de expediente.

Espalhados, agrupados, sentados no chão e vez em quando, também, no meio da fumaça; cabelos variados, multiétnicos, bermudas largas e tênis chapados aparecem na multidão. Bonés, cordões estilosos, gírias e cumprimentos fraternos deslizam sobre os shapes ao longo do trajeto. Lá estão eles, os esqueitistas! Jovens de todas as idades, estilos e cores de fones. É impossível passar por ali sem perceber o constante estralar de rodinhas no chão.


Desanimados para encarar mais um dia burocrático-entediante, os bancários com suas barrigas feridas, levam à boca seções alternadas de refrigerante e junk food. Assistem todo dia os saltosdas contas bancárias, mesmo que isso provoque a queda de seus cabelos e de suas autoestimas. De vez em sempre, discutem o cotidiano de suas repartiçõesnos protestos sobre aumento de salário e redução de jornadade trabalho.

Que paradoxo de vida perturbador! Os que lidam com o dinheiro parecem viver intensamente a letargia, enquanto os ociosos são exemplos vivos de superação, persistência, dedicação e coragem. Incansáveis, os meninos e meninas madrugam para chegar até lá e começar uma jornada de saltos repetitivos, perigosos e fraturantes. Ultrapassar os limites é algo tão natural nesses garotos! No meio do caos executivo, eles continuam a rodar numa espécie de transe. É incrível ver os Peter Pans suicidas em estado de meditaçãoKurt Cobain.

Não sei que tipo de música bancário escuta. Mas, seria bom começar a escutar Charlie Brown Jr. o mais rápido possível!

rica

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