Esta manhã recebi um telefonema de um número esquisito. Era um cara querendo me oferecer um produto financeiro. Ele quase não me deixava falar, só ouvia quando minha resposta era "sim". Fazia perguntas daquelas se aprende em treinamentos de marketing duvidoso, onde a intenção é direcionar a conversa para benefício próprio. Respondi que não tinha interesse e perguntei onde ele havia conseguido meu telefone. Desconversou e continuou com a ladainha. Então, pedi que me desse seu telefone e que se houvesse interesse entraria em contato depois. Desconversou de novo, fingindo não me ouvir, e disse que não tinha como fornecer um número, não sei mais o que... O cara foi tão invasivo que o jeito de sair da cilada foi simplesmente agradecer o contato e desligar. Foi como se eu tivesse falando com uma máquina que não entendia humanos. Fico perguntando onde as pessoas tem aprendido empatia, num curso de mecatrônica? Como lidar com relações pessoais e comerciais de intenções manipuladoras?

Aí me lembrei daquelas pessoas que conversam com você dizendo frases como "Será que você consegue?" ou "Você poderia me enviar um email com essa sua questão?" Não sei se você percebe esses padrões manipuladores como percebo. A comunicação humana foi bem corrompida nos últimos tempos. Muitos comunicadores, ou mesmo pessoas fora da área de comunicação, aprendem esse tipo de abordagem para transferir responsabilidades para o outro de maneira bem sutil. Sabe aquela coisa de "vou concordar com a pessoa pra que ela fique calada, aí ela pensa que venceu." Geeente... quanta distorção, quanto medo de ser verdadeiro! "Sim, isso mesmo, você está coberto de razão!" - disse o interlocutor ao tentar ser "empático" com o cliente. Será medo da vulnerabilidade? Ou medo de perder a autoimagem? Sinto como algo bem negativo. Acabo me afastando de pessoas assim automaticamente. Pode ser um jeito até rude da minha pessoa, mas ainda não sou o empático inabalável nível MTC (Madre Tereza de Caucutá).

Gaslightening. Isso ficou conhecido como um tipo de abuso do homem sobre a mulher, através de um jogo sutil de comunicação manipuladora. Para a nossa surpresa acontece com o homem também, bem como entre pessoas em qualquer tipo de relacionamento. Coisas que egos altamente sofisticados conseguem fazer, sem que a gente perceba. Mais surpreendente ainda é perceber que isso tem acontecido em todas as relações, principalmente comerciais! Aquele vendedor que convence o cliente sendo simpático e "empático" quando faz o rapport, e que depois fala mal do sujeito se vangloriando de ter empurrado um produto encalhado no estoque. É aquele profissional que lançou um curso online baseado no lado escuro da fórmula de lançamento, que te envia emails com títulos como: "Você vai perder esta oportunidade de ajudar o próximo?". Ou ainda aquele que lhe oferece tantos "bônus" que você fica sem graça de devolver o produto que não funcionou. Sabe aquela revista que te oferecem de graça no aeroporto? Isso também é um processo psicológico de manipulação, através de uma comunicação geradora de culpa, coação passiva e gatilhos mentais subconscientes.

A verdade não é muito vendável, sabemos disso. Poucos estão preparados para viver relacionamentos "verdadeiros de verdade" rs; relações onde não se esconde os defeitos. Para que um novo padrão de comunicação surja, sinto que é preciso procurar ser Verdadeiro como primeiro requisito na hora de vender ou comprar. A impressão é a de que estamos confundindo o relacionamento pessoal com vendas. Produtificando tudo numa Era onde o toma lá da cá está entrando em colapso. O fluxo não aceita o fake! A troca ainda se mantém baseada na proteção e no medo. Muitas pessoas alteram seu próprio comportamento para conseguirem o que querem através do mundo maravilhoso dos cursos e técnicas de como conseguir ser persuasivo. Cristo! Aliás, tá aí! Cristo. Se há um exemplo de empatia e marketing maior de todos os tempos é este cara.

Pra lidar com estas arapucas e arapuqueiros, deixo de dar atenção ao lado negativo dessas situações e me inspiro naqueles onde o verdadeiro chega antes mesmo da pessoa se apresentar. Respeitam o tempo e as necessidades das pessoas. Oferecem o seu melhor sem coagir ou empurrar responsabilidades, culpas ou dívidas. Eles não procuram persuadir o outro a qualquer custo através de gatilhos psicológicos. As pessoas verdadeiras são apaixonantes. Elas não fazem jogos, nem rodeios para chegar onde querem. Elas simplesmente vão, chegam e raramente são mal recebidas. Porque a verdade que trazem consigo batem direto na porta do coração. Eles preferem não bater a meta de suas vendas a empurrar falsas verdades. Tenho a sorte de conhecer pessoas assim, de ter amigos que são desse jeito. Caracas! Como é bom ter pessoas assim por perto. Eles são os próprios Bônus que recebemos antes mesmo de comprar o produto! É esse o sentimento que me faz seguir em frente: A VERDADE, O VERDADEIRO, O GENUÍNO. Como diz no Xamanismo, "por todas as nossas relações".

Photo by Joshua Lanzarini on Unsplash

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