Ar condicionado ligado, sala toda decorada e a primeira pergunta: Aceita uma água, um café? Aí então, chega o avaliador com expressão altiva, senta-se na cadeira de rodinhas cromadas e encosto até a altura da cabeça. Ele sabatina qual o seu maior defeito e você diz que é ser perfeccionista. O ambiente proporciona conforto, mas não pra dizer que seu maior defeito é chegar atrasado, fazer fofoca, que odeia hierarquias ou mesmo que adora comer enquanto trabalha. Seu defeito é não ter defeitos! O defeito é ser perfeito.

Já dizia o velho deitado que filho feio não tem pai. Porque é tão difícil assumir nossos erros? Reconhecer nossos defeitos parece martírio. Ficamos ali negando, escondendo e apontando os dos outros. Encobrimos as rebarbas de nossa personalidade na ilusão de que somos ilusionistas a fazer desaparecer nossas imperfeições.

Já fui daqueles perfeccionistas que não conseguem terminar um texto porque achava que ainda estava ruim. Talvez seja por isso que boa parte do tempo, antes de lançar o livro, meus poemas ficaram tímidos dentro da gaveta na espera da fada da perfeição. Aquele cara que não conseguia ver um post-it grudado na tela do computador, ou que alinhava o mouse pad junto ao teclado para não ficar torto! E a pior característica que alguém pode ter: ficar na inércia esperando o momento perfeito.

Uma pessoa dessas precisava ou não fazer um d e s t r a l h a?

Hoje gosto muito de dizer e acredito, que a imperfeição faz parte da perfeição. O perfeito é uma unidade com uma coisa imperfeita dentro. São as montanhas do Rio de Janeiro com as favelas encrustadas nas rochas. A namorada que te irrita. É a mãe que te enche o saco quando pede pra levar o casaco. Perfeito é aquele amigo que falou, na lata, que te achava insuportável antes de te conhecer melhor. Consertar o erro é perfeito. Assumir nossos erros é a perfeição. O erro não faz parte; ele é parte. Parte da nossa perfeição.

Parece muito estranho dizer isso, que é preciso destralhar a perfeição. Lao Tsé dizia que "O homem correto age por uma lei interna, e não por mandamentos externos". Lembra do símbolo yin yang? Não tem como ser perfeito se não houver um pouco do oposto. Hoje, não só assumo como gosto do aprendizado dos meus erros. Isso me evolui muito mais e vivo a vida mais livre.

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