Quando o assunto é desapego aparecem vários motivos que justificam aqueles "confortos" que não abrimos mão. Minimalismo é viver com o básico, porém sem exageros. Não é preciso dormir no chão ou comprar tudo da promoção. Nem usar as roupas até os farrapos. Muito menos andar a pé se precisa de condução. Se existem resistências com relação ao conforto sobre coisas materiais, imagina quanto ao conforto diante de dificuldades, emoções e atitudes. Será mesmo "o desapegar" um destruidor dos nossos confortos?

Talvez você ache difícil andar da parada de ônibus até o trabalho, aí compra um carro. Pronto, resolvido. Está brigado com algum amigo? Fácil, só o excluir das suas redes sociais. Mas aí ficou deprimido, ansioso e nem sabe o porque. Muito tranquilo de resolver. É só uma receitinha do psiquiatra e o bom atendimento do atendente da farmácia. Tem gente que espiritualiza e ainda coloca apelido carinhoso em antidepressivo: Santo Remedinho Lindo!

A autoestima não é mais problema de psicólogo. Se resolve com cartão de crédito. Não precisa se abrir com ninguém nem ter medo de que os outros digam que você é fraco, ou louco. Não precisa se expor a julgamentos. Quantas situações confortáveis que a gente acaba adotando como hábitos, às vezes até de forma inconsciente, influenciados pela mídia, pelo senso comum, pela maioria, por medo e muitos outros motivos, não é mesmo?

Se esse tipo de situação confortável passa a ser necessidade fundamental, nosso "jeito de fazer as coisas" ou mesmo uma maneira de alívio para o estresse, é legal fazer uma reflexão. Quando o conforto que procuramos é forma de entretenimento e qualidade de vida, tudo certo. No caso de ser uma válvula de escape, aí tem coisa.

Buscar confortos para compensar desconfortos pode ser um modelo de vida bem tóxico. Muito do aprendizado que obtemos nessa vida vem do desconforto, do sofrimento, das situações inesperadas e do imprevisto. O confortável nos obriga a permanecer na inércia, e a vida é movimento. E o minimalismo, na sua função como estilo de vida, é se livrar do supérfulo para concentrar-se no essencial. A partir daí descobrir o que é o conforto real e duradouro.

Ter um carro legal é ótimo. Mas se o trânsito não ajuda e uma bicicleta te da mais mobilidade, porque insistir em manter um recurso que faz seu dinheiro ir embora? Milhões de amigos no facebook pode até confortar o ego do coração virtual, agora, nada mais confortável e vivo do que uma conversa com aquele seu único amigo no sofá da sala. O cara-a-cara, o saber que existe sangue correndo nas veias.

Conforto tem se tornado um sinônimo de inércia, preguiça, de traseiros sedentários colados com velcro no sofá, de controle remoto nas mãos, assistindo a falência do cérebro. Enquanto isso, muita gente tem buscado um jeito simples de viver está VIVENDO de forma desconfortável, mas contanto histórias de desafio e superação.

Depois que comecei a estar mais na presença física com amigos, dar mais atenção real às pessoas e a desvirtualizar meus relacionamentos entendi e reconheci o verdadeiro significado de conforto: o conforto de estar em movimento, na temperatura ambiente; sem ar-condicionado. Em ação. Como dizem os atletas quando estão fora da sua zona de conforto para se superar: In the zone!

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