O mais engraçado é que o nome dessa série de artigos é "Vida sem carro". Ou seja, já começo falando que viver sem carro é meio que um grande peso ou uma dificuldade tremenda. O título carrega em si subentendido que sem carro as pessoas não conseguem viver. Como por exemplo, vida sem felicidade, vida sem comida, vida sem água.

Esse valor está tão consolidado no inconsciente que nem mesmo a minha escolha por um estilo de vida minimalista conseguiu mudar isto quando dei esse título. O conceito está arraigado na sociedade. No meu caso, cresci assistindo propagandas de carro na tv. E como todo garoto, menino, macho alfa mirim, cresci ganhando carrinhos de presente. Há pouco tempo eu tinha na mesa até um Deloriam Hot Wheels!

Meu pai teve dois Fuscas e acabei comprando um também na época da faculdade. Ainda aprecio este carro mitológico que o fabricante parou a produção há anos. Com razão. Qual empresa vai "lucrar" com um produto que dura mais de 30 anos, tem peça até na padaria, e com clips e chiclete você pode consertá-lo sem entender de mecânica?

Não é que o automóvel foi maculado. A grande questão é o que o consumismo fez com essa ideia tão incrível. Nos meus últimos dias de carro no trânsito me senti como um rato de laboratório dentro do labirinto. Já fiquei sem conseguir sair da cidade por causa de engarrafamentos, saídas bloqueadas por acidentes, blitz, e horários de pico.

Infelizmente, o ser humano conseguiu estragar a ideia com engenharia precária, superfaturamento, impostos exorbitantes etc. Aí já entra no mérito político, coisa que não é objetivo do destralha. Até voltaria a ter carro se houvessem condições mais justas e geografias mais apropriadas. Mas por enquanto (e talvez para sempre) aqui vai uma pequena lista das vantagens de não ter carro:

  1. A maioria dos motoristas de ônibus ou táxi tem vários anos de direção;
  2. Fica menos estressado com as pessoas que estão estressadas no trânsito como você;
  3. Não existe preocupação com roubos, batidinhas ou sequestro relâmpago;
  4. Interage mais com as pessoas e suas histórias de vida;
  5. Sente gratidão por fazer o bem, como dar lugar a alguém preferencial;
  6. Observa lugares e paisagens no ambiente que você não percebe enquanto dirige.

Depois de quase vinte anos de Brasília, vi pela primeira vez um museu antigo daqui em um lugar que eu passava com frequência. Só fiquei assustado quando me disseram que ele estava lá bem antes de eu chegar!

No próximo Vida sem carro (mas é possível viver sem sim) tem mais.


Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem